.: Festa na Uff

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Festa na Uff

Pintando durante a festa do SINGA na Uff em Niterói... Novembro de 2009.

Um comentário:

sheila riente15 de dezembro de 2009 às 16:18
o artista e sua criação......
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Entrevistas

Entrevista com Anarkia (Outubro/2008) Leandro- Você comentou (antes da entrevista) sobre a “geração Montana”. Gostaria que você explicasse um pouco mais. Anarkia: Agente fala que geração Montana é o pessoal que começou a grafitar depois que já tinha a tinta Montana no mercado. O que foi uma revolução no nível técnico. E até mesmo das coisas que as pessoas faziam. Mas eu acho que junto com essa revolução da Montana, veio a revolução da internet, câmera digital. Antigamente os grafiteiros não tinham esses acessórios e o graffiti era outro. A geração Montana tem como característica a mudança da técnica quanto de material (tecnologia). Você tirar sempre foto e colocar na internet, Fotolog... L- Essa geração é de quando? A: Isso daí é de 2005 para cá (2008)... A Montana veio para o Rio no primeiro semestre de 2005, ali por volta de Maio, Junho. Mas teve uma galera que demorou a se adaptar... L- O pessoal das antigas? A: Mesmo o pessoal novo que convivia com o pessoal mais isolado e não teve tanto essa influencia... Quando chegou a Montana não foi logo usando, e continuou com Colorgin (Tinta Nacional). Ela pode até ter começado a grafitar depois dessa data, mas como ela não tinha a convivência com determinadas pessoas mais antenadas, o acesso as tintas Montana foi mais lento. L- Como você começou a grafitar? A: Foi através dos meus alunos, que eu tinha muitos alunos grafiteiros, alguns até conhecidos, faziam parte da primeira geração... Pessoal dos Artistas Urbanos da Penha. Sempre me chamavam e eu ia muito na Uruguaiana por volta de 2002. Aí o Gás falou que eu tinha que fazer graffiti. Eu nem sabia o que era isso direito... Mas eu passei a me considerar grafiteira a partir de 2005. Que eu passei a fazer graffiti sempre. Todas as semanas na minha vida. L- Até hoje você mantêm essa rotina? A: Não. Esse ano de 2008 não, por conta do trabalho. Mas pelo menos todo mês eu faço. L- Você dava aula de que antes? A: De arte e pintura. L- Eu vi que você é formada em belas artes... A: Isso. L- Quantos anos você tem? A: 27. L- Você disse que esse ano você está muito ocupada com o trabalho. Você trabalha com graffiti mesmo? A: Eu trabalho com arte, mais com idéia mesmo. O meu trabalho como professora não me limita estar fazendo graffiti, mas o meu trabalho com pesquisa, projetos sociais e outros tipos de projetos, acaba limitando meu tempo para me dedicar ao graffiti. Isso por que eu comecei a fazer graffiti com BOMBER. Que é igual a um cachorro fazendo xixi em toda parte para marcar território. Você sai espalhando. O mínimo que eu fazia de uma vez eram dez. Hoje em dia eu me considero uma grafiteira normal, até abaixo da média. Porque eu grafito todos os meses, painel essas coisas, mas diante do ritmo que eu tinha é muito pouco. L- Quais são os lugares que você prefere grafitar? A: Eu gosto de pintar na área da Leopoldina. Por que todo mundo passa ali. Sempre gostei de pintar lá. Da rodoviária até o viaduto dos trens. Da Presidente Vargas para lá (em direção à Candelária) eu já não gosto por que tem uns espaços muito sufocados (cheio). L- Onde você mora? A: Na Penha. L- Você pinta por lá? A: Muito pouco, parece que agente não quer sair dali e explana muito... Todo mundo olha e sabe que você mora ali perto eu gosto de ir para outros lugares. Que eu fico com menos vergonha de pintar em outros lugares. Na Penha todo mundo me conhece. Uns vão achar legal outros não, e eu não gosto disso. Em outros lugares dane-se se gostarem ou não. L- Quando e onde começou o graffiti no Rio de Janeiro? A: Começou em São Gonçalo com o Ema e o Eco. O Ema fez um graffiti no Rio e influenciou um monte de gente. Perto da rodoviária. O Ema é mais antigo mas o Eco diz ser mais, tanto que eles hoje em dia são brigados. Existe uma rivalidade. Surgiram com o pessoal de São Gonçalo que tinha vários outros grafiteiros. Aí o pessoal do Rio viu e começou a gostar. E o lance do Ema ter feito uns trabalhos para O Rappa (banda de rock) e aí propagou muito o graffiti. Daí surgiu a Nação Crew que para mim é mais antiga do Rio. Depois a Flesh Beck e assim veio até hoje. L- A Nação Crew começou em que ano? A: Entre 1998 e 2000. L- Você participa de alguma Crew? A: Teoricamente eu sou café com leite da Nação. Mas não gosto de ser da Nação não. Por que é uma outra geração e é o grupo deles... Eu acho que eu faço minhas coisas por mim mesma. L- O que representa uma crew para você? A: Um bando de moleques que tem um mesmo pensamento e pintam juntos. L- Você começou na pichação? A: Sim. L- E ainda picha? A: Não, nem amarrada! Porque eu acho que eu já passei da fase de pichação. Quando eu quero fazer algo ilegal eu uso algo mais estratégico, por que a pichação é muito força. Muito mais força do que... Tudo bem que você tem que ter visão, capacidade e coragem. Eu como mulher é muito ruim de fazer. Prefiro usar outras estratégias dentro do graffiti. Eu não vou fazer uma pichação num muro horrível, para queimar o meu filme, já tendo o meu nome no graffiti. Prefiro não fazer, do que ficar me queimando por aí. L- O grafiteiro tem um tratamento diferenciado do pichador pela sociedade? A: Tem por que o graffiti hoje toma o patamar de arte. Mas originalmente o graffiti é uma pichação. È uma pichação que foi ganhando forma, sendo enfeitado, crescendo e virou um graffiti. Era ilegal e era feito em lugares ilegalmente. Tanto que os grafiteiros de amor querem ter seu graffiti onde não pode. Daí nós não podemos julgar o que aconteceu. Virou arte, vai para galeria, vira moda, não podemos condenar os outros. Vira produto... L- O graffiti é proibido? A:Sim. L- Como pode haver um monte de oficinas que vai “formar” um monte de garotos que vão sair por aí fazendo graffitis ilegalmente ? A: Tem muita oficina por aí que ensina a garotada a usar o jet, fazer graffiti, e não tem um diálogo de como fazer o graffiti na rua. Se o garoto ver um muro maneiro, tem que pedir para o dono, e fazer o seu graffiti. Por que na realidade o governo e as leis são burros. Se você for ver analisar a lei do meio ambiente, mesmo com uma autorização o cara não pode estar interferindo. Por que é poluição visual. Tanto que lá em SP não interessa se a casa é sua ou não, a prefeitura limpa tudo. Passa o pistolão cinza, pois está seguindo o rigor da lei. Não pode interferir na paisagem. Daí eles fazem essa lei que não diferencia graffiti de pichação, e agora está sendo modificada no sentido de diferenciá-los. Mas mesmo assim elas se chocam, pois se eu fizer um graffiti lindo e maravilhoso na casa de alguém que não o quer é uma pichação né?! Eu acho que deveriam ter leis específicas regulamentando a arte urbana no Brasil. L- A aplicação das leis e a punição do grafiteiro no Brasil é diferente de outros países? A: Lá fora o graffiti tem o mesmo valor da pichação aqui. A Tag existe mas é uma brincadeira, não é igual no Rio que o pessoal é pichador “profissional” de pichação. Lá o graffiti é colorido mas equivale a pichação daqui. O pessoal tem horror ao graffiti. Geralmente nos países mais pobres como na América Latina, a aceitação é maior. Eu acredito que por causa de tantos problemas que existem, fazer graffiti as pessoas acabam valorizando. Aqui se eu me sinto no direito de pintar a parede de outra pessoa eu pinto achando que eu vou estar fazendo um bem para ela que de repente não tem condições de melhorar sua casa. Lá todo mundo tem dinheiro para pintar suas paredes e deixar tudo bonito, nesse caso se você pintar, vai ser numa de vandalismo mesmo. Coisa da individualidade do primeiro mundo. L- Essa legislação que diferencia o grafiteiro do pichador pode criar uma rivalidade entre ambos os grupos? A: Eu acho que não. Por que não vai funcionar do jeito que eles acham. Pois os o próprio grafiteiro pode enganar a polícia dizendo que pode onde não pode, e vai acabar dependendo da atitude do grafiteiro e de onde ele quiser fazer. Vai confundir a cabeça dos policiais e vai ficar mais fácil de grafitar. L- Você já foi repreendida pela polícia? A: Várias vezes, mas assinar o artigo não. Se você tem uma boa conversa pode conseguir convencer o policial de que se está fazendo um bem e não vandalismo. L- Em alguma situação em especial? A: Com o pessoal da Nação na Praça da Bandeira passou logo um General da policia e parou. Ele era um cara inteligente e disse que nós não poderíamos fazer aquilo por que sem autorização é pichação. Vai todo mundo para a delegacia. E mandou um subordinado nos levar. Mas aí conseguimos desenrolar com ele, pois o Chico da Nação alegou fazer vários projetos sociais com o Afroreggae... Além disso, ele tinha dito que o que nós estávamos fazendo era bonito. Também numa fábrica abandonada na Penha, eu estava pintando e um policial chegou afirmando que ali era patrimônio dele. Depois de muita conversa, eu lhe dei um dinheiro que ele nunca conseguiria comprar tinta para cobrir minha pintura. Daí ele me deixou terminar o graffiti e foi embora. L- Você acha positivo a imagem do grafiteiro ser bem quista pela mídia? A: É ruim pois o graffiti de verdade está morrendo. Mas é bom para quem gosta de viver com arte e não consegue se inserir nesse mercado que exclui tanto as pessoas, dá possibilidade da pessoa estar produzindo, estar conseguindo trabalho na rua, e dá a possibilidade da pessoa viver disso. L- Você consegue viver do graffiti? A: Não vivo do graffiti em si, mas vivo de arte. Eu já vivia de arte, mas hoje eu atuo muito mais por causa do graffti. L- Você acha que o graffiti defende alguma causa ou objetivo maior? A: Eu acho que incomodar não incomoda, por que até o policial que prende agente gosta. Agora eu acho que o interesse é particular de cada um. Eu acho que isso deveria mudar por que ele tem uma ação direta nas ruas que é superior a qualquer outro tipo de arte. Mesmo que você não goste do graffiti, irá acabar olhando para ele pelas ruas. A partir do momento em que você está expressando alguma coisa na rua, acaba influenciando a forma como as pessoas pensam. Se influencia as pessoas pode mudar a forma como aquela pessoa pensa. Pode mudar a cultura de massa. Pois tem muito problema no Brasil que vem da forma como as pessoas pensam. Como racismo... São coisas simples que não mundo por causa que as pessoas tem aquela cabeça bitolada. O graffiti é uma ferramenta. A arte mais do que a política, tem o poder de transformar socialmente por que transforma culturalmente. A arte pode mudar a forma como as pessoas agem. Todas as pessoas que trabalham com arte, graffiti deveriam ter essa consciência. Que não tem! Como o graffiti tem esse lado muito comercial e capitalista como ta existindo agora, mas ele veio como anti-capitalista. Que era a fala de uma minoria excluída, aí o próprio sistema cooptou aqueles que tinham uma fama maior e adaptou segundo seus moldes. A partir do momento em que eles estão adaptados foi retirada a voz daquela minoria, que continua abafada. Eles incomodavam quando estavam grafitando os trens em NY, chamando a atenção para aquela problemática dos jovens. Tinham os grafiteiros que falavam pelos jovens, e depois que foram para galerias deixaram de ser representados, pois nem todos faziam o graffiti. Aqui também tem aqueles que não querem saber se tem o poder de transformação ou não... eles querem se inserir no sistema e ganhar o dinheiro deles. L- Você acha que essa consciência está se perdendo? O que você acha que seus alunos da oficina (na Casa de cultura Lauro Alvin) tem como objetivo? A: Ser como a Flesh Beck Crew. L- Como assim? A: Fazer personagens para enfeitar o quarto de outros garotos, camisetas, etc... Ganhar dinheiro e ir para uma galeria. Não querem ser como um ACME, que pinta um político cara de pau, e que não quis botar o quadro numa galeria por que o cara da galeria era um tremendo capitalista. Eu falo disso, vou para os Fóruns da vida, mas eu me vendo também. A Nike explora o pessoal da Ásia e eu visto Nike e ainda faço trabalho para eles. Mas eu sou adestrada. Eu não consigo mais me libertar. Tenho consciência. Eu já fiz trabalho para a Globo, imagina eu anarquista fazendo esse tipo de trabalho. Eu faço uma tela e vendo por quatro mil. Eu não tenho nada! Agente pode tentar fazer alguma coisa para mudar esse sistema, mas enquanto ele não muda, nós temos que nos adaptar. Eu tenho que me adaptar a não ser que agente vire mendigo mesmo... L- Qual é a relação do graffiti com o Hip-Hop? A: Hoje você pensa o graffiti sem Hip-Hop. Ele ganhou uma autonomia. Tanto que o Hip-Hop já esteve muito na moda, e hoje em dia essa moda existe, mas não é tão forte quanto a do graffiti. O graffiti transcendeu o Hip-Hop e ganhou autonomia. O graffiti é Hip-Hop, ele fez parte dessa evolução que eu falei, dele ser uma coisa ilegal, foi se adaptando e de repente virou até ferramenta para a sociedade. Do mesmo jeito que ele evolui da questão da legalidade, ele evolui na questão do Hip-Hop. Ele vai a partir do Hip-Hop, foi integrado a essa cultura, dentro da idéia de Hip-Hop, e depois ganhou os rumos que ele quis dar para ele mesmo. Tem gente que é do Hip-Hop e tem gente que não é, mas todos podem fazer o graffiti. L- Eu digo isso por mim, eu faço graffiti, mas não pertenço ao movimento do Hip-Hop ou mesmo tenho preferência por ouvir rap... Eu conheço muitas pessoas que são assim também. A- Eu não gosto de rap, porque o meu ouvido não agüenta. O cara fica falando e eu não entendo nada. Mas eu me considero do Hip-Hop por causa da ideologia. L- Pode-se falar que o Hip-Hop é uma tribo? A- Risos. É uma tribo, fica meio feio, mas o contexto é esse mesmo. Assim como tem a tribo do rock e outras, mas não se usa a palavra tribo. L- Seria então um movimento? A- Acho que é melhor falar em cultura Hip-Hop ao invés de movimento, pois o movimento dá uma idéia de grupo que age por alguma coisa. Tem o pessoal que é do movimento e tem o pessoal que é da cultura. Nem sempre quem é da cultura é do movimento. L- E você estaria em qual? A- Eu acho que eu sou do movimento pois estou movendo alguma coisa. Acho que o meu movimento é mais de arte mesmo, apesar de isso ser cultura também. Eu utilizo o graffiti, que é um elemento do Hip-Hop, mas não para movimentá-lo diretamente. L- Você já participou de mutirões? O que você acha dessa ação? A- Sim. Eu gosto de encontrar o pessoal, e é bom porque lá está o cara que nunca grafitou na vida até o cara mais antigo está lá “junto e misturado”. Além de estar levando... Por que tem esse problema do espaço na cidade, nós não temos mais espaço para grafitar. O espaço está ficando escasso. Então na comunidade (favelas) é onde se pode mais pintar, todo mundo tem espaço lá. Assim pode-se divertir, encontrando várias pessoas. É tranqüilo. O pessoal da comunidade adora, fica doido! As crianças ficam doidas. È uma proposta de união, pois vai unir os grafiteiros, vai dar essa experiência da comunidade com arte que talvez ela nunca tivesse. Então o mutirão vai unir o grafiteiro com o pessoal da comunidade. L- Quem começou essa proposta dos mutirões? A- Os mutirões vieram de Recife. Tem um grupo lá que teve essa idéia... (interrompido) L- Existe disputa entre os grafiteiros? A- Sim. Mas normalmente quando isso ocorre essas pessoas conversam e entram num acordo. Imagina se um ficar atropelando o outro para sempre. Já aconteceu, mas é difícil. Normalmente as pessoas entram em um acordo. È como uma guerra mesmo, e aí os dois vão sair perdendo. L- Como se conquista o respeito entre os grafiteiros? A- As pessoas tem que se conhecer, conhecer seu trabalho. Nem sempre gostar, mas você ficando conhecido pelo seu trabalho passa a ser respeitado por saber que você existe. Aqui no Brasil, por que lá fora o respeito se ganha se você faz o trabalho de boa qualidade estética. Se você “cagar” o muro outros irão cobrir o seu trabalho e pode até ser agredido... Aqui não, mesmo que o cara seja um “Toy”, ruim de graffiti, as pessoas respeitam. Ele até vira chacota, mas sabe por que acontece isso? Por que no Brasil se tem um problema da violência muito grande, as pessoas matam por um real, então mesmo o cara sendo ruim e coisa e tal, você vai evitar o máximo evitar arrumar confusão com ele. Aqui não tem muito esse negócio de ficar atropelando, o pessoal prefere sentar e entrar em um acordo.